Torto Arado, de Itamar Vieira Filho

16 de julho de 2021

 


Com toda a certeza, um dos melhores livros que eu li na vida. Torto Arado leva a gente pra uma história de pertencimento e luta, de Nordeste, de chão e de fé. Em 2018, o geógrafo Itamar Vieira Junior decidiu inscrever seu livro Torto Arado no prêmio LeYa, de Portugal. Venceu, e o livro foi publicado primeiro lá. No ano seguinte, a editora Todavia adquiriu os direitos e publicou o romance no Brasil. O sucesso, contudo, viria apenas no fim de 2020. Torto Arado venceu os dois principais prêmios literários brasileiros, o Jabuti e o Oceanos, no ano passado. E acabou conquistando as redes sociais. De acordo com informações fornecidas pela editora Todavia à DW Brasil, até agora já foram vendidos 100 mil exemplares. E isso transformou o até então desconhecido Vieira Junior em uma celebridade do mundo literário.
Acho que por ser geográfo, Itamar tem um olhar especial. Eu também vim da Geografia, na UFPE, foi meu primeiro curso acadêmico e eu sou o que sou por causa de tudo o que vivi ali no CFCH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas) da UFPE. 
"O torto arado que dá nome ao livro é um objeto que, usado pelos antepassados das protagonistas na lida com a terra, atravessa o tempo para representar essa herança escravocrata de tantas desigualdades. Narrado primeiramente por Bibiana, depois por Belonísia e, na terceira parte, por outra personagem, uma encantada, o romance já começa com o clímax de um acidente: crianças, as duas irmãs —filhas de Zeca Chapéu Grande, um líder comunitário e espiritual— encontram uma faca da avó Donana. A partir daí, a linguagem, central na narrativa desde a prosa melodiosa com que o autor escreve, torna-se ainda mais importante. O não dito é tão importante quanto o que está impresso no papel. Uma irmã torna-se a voz da outra, e, como estão descritos os gestos, mas não as palavras das personagens, o leitor não sabe quem foi mutilada até chegar a um terço do romance." (El País)
Lendo Torto Arado, lembrei do meu primeiro artigo científico, que escrevi em 2011: TERRITÓRIOS DE COMUNIDADES NEGRAS RURAIS QUILOMBOLAS: O CASO DE ONZE NEGRAS – CABO DE SANTO AGOSTINHO – PE. No artigo, abordamos a comunidade do quilombo Onze Negras situada no município do Cabo de Santo Agostinho, que buscou o reconhecimento de sua identidade e a segurança jurídica de seu direito à propriedade para romper a prática da segregação espacial. Outrossim, por ser uma comunidade rural, ainda vigora em Onze Negras problemas negativos, que impedem o desenvolvimento social da comunidade. Este trabalho trata da formação de um povo, uma sociedade singular. Busca mostrar nos dias de hoje, como é o modo de vida de uma comunidade quilombola, apresentando, assim as relações atuais da interação quilombo-cidade.
O artigo não só serviu para mostrar a história, modo de vida e as relações da comunidade com o município do Cabo de Santo Agostinho, como também para se refletir acerca do abuso que tem ocorrido com os remanescentes, que em muito lutam e lutarão na preservação de sua tradição, e por isso merecem o nosso respeito, principalmente frente ao desenvolvimento.
O artigo se encontra nos Anais do SINGA 2021 (http://singa2011.ufpa.br/ - http://www.lagea.ig.ufu.br/anais.html)
O livro me emocionou demais, em todos os sentidos. Espero que todo brasileiro tenha a oportunidade de ler um dia. Muito obrigada por tanto, Itamar!

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